Worten impõe custos do teletrabalho em contratos de formação para trabalho efetivo

Worten impõe custos do teletrabalho em contratos de formação para trabalho efetivo

29 de Julho, 2020 0

A Worten, empresa do grupo Sonae dedicada ao retalho de eletrónica, segundo denúncias que recebemos, impôs os custos associados ao teletrabalho a vários trabalhadores que estariam supostamente em formação para assistentes do serviço de apoio ao cliente. Segundo os relatos, estes trabalhadores, recrutados em plena crise sanitária, embora não tenham sido informados previamente, apesar do contrato de formação não prever sequer a realização de tarefas à distância, tiveram de assegurar todos os equipamentos necessários (computador, auriculares com microfone) e até mesmo realizar chamadas assumindo os custos associados. As denúncias relatam situações em que, mesmo com a avaria de algum equipamento, foi imposto que fosse o trabalhador a adquirir um novo. Seguindo o abuso generalizado no negócio do atendimento ao cliente e call center, foi celebrado com os trabalhadores um contrato de formação de 2 meses através de uma intermediária, a multinacional Manpower, sendo apresentado como uma condição prévia essencial para trabalhar na função. Na verdade, segundo os relatos, após escassos dias de formação inicial, os trabalhadores começaram a atender clientes, no desempenho normal das funções para as quais deviam ter um contrato de trabalho.

As denúncias falam em mais de uma dezena de trabalhadores nesta situação, apenas num dos recrutamentos para o efeito, que ocorreu em maio. O contrato de formação prevê uma remuneração de apenas €10 por cada dia de “formação teórica e de formação com atendimento assistido”, passando a uma remuneração de €3,30 por hora quando os trabalhadores transitam para uma suposta situação de “formação on job”. Além das muito baixas remunerações, os relatos referem atrasos nos pagamentos e a obrigação de trabalhar em feriados sem direito a vencimento adicional. Em alguns casos, referem ainda as denúncias, os trabalhadores acabaram por desistir do trabalho devido a avarias nos equipamentos ou por não aceitar estas condições abusivas, não tendo recebido qualquer valor pelos dias trabalhados.

A intermediação por empresas do negócio do trabalho temporário e o recurso abusivo a contratos de formação, sem direitos e com remunerações muito baixas, é um prática tristemente comum no atendimento ao cliente nas grandes empresas. Em contexto de crise sanitária, depois da evidente falta de condições em muitas situações de trabalho presencial em call center em várias empresas, a Worten manteve esta estratégia patronal, mas de forma ainda mais agressiva e adaptando-a ao contexto de teletrabalho.